Três filmes que sintetizam o fascismo

Releituras que fazem pensar sobre o autoritarismo.
Releituras que fazem pensar sobre o autoritarismo.

Toda a polêmica que gira em torno do que é fascismo retratada em três filmes essenciais.

Os acalorados debates políticos, principalmente nas redes sociais, oriundos das eleições de 2014, trouxeram a palavra Fascismo para os holofotes, entrando de vez no vocabulário das discussões.

Tais reflexos podem ser vistos, por exemplo, em recente evento em que Marilena Chauí, professora de filosofia da USP, declarou que "A Sociedade 'está prontinha para o universo fascista'", uma frase com certeza polêmica, mas que reverbera em parte da sociedade e que talvez não esteja tão longe da verdade. Alinhada a este pensamento outra filósofa, Marcia Tiburi, escreveu um livro inteiro dedicado ao assunto chamado "Como conversar com um fascista" em que aborda, segundo sua visão, a maneira como pessoas que possuem este perfil agem e como dialogar com as mesmas.

O assunto também trouxe um grande número de polêmicas sobre o que é ou o que não é Fascismo. Não é difícil encontrar pessoas sem conhecimento histórico, fazendo declarações completamente equivocadas, ajudando ainda mais na disseminação de ideias falsas.

Se consultarmos um dicionário, o Houaiss, por exemplo, o Fascismo é definido como:

"Movimento político e filosófico ou regime (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922), que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador."

Nesta perspectiva o conceito de individualidade deve ser eliminado, pois gera problemas para o regime. Ele traz o questionamento consigo e o questionamento é completamente abominado pelos regimes autoritários.

Porém, mais do que definições de dicionário, é interessante conhecermos narrativas que falem sobre o Fascismo para desta forma termos uma melhor dimensão do que ele realmente é. A sétima arte cai como uma luva para este propósito!

Abaixo listamos três filmes interessantes que falam sobre fascismo e como ele está muito próximo de nós do que imaginamos. Talvez não por coincidência dois dos três filmes são alemães.

A Onda (Die Welle - 2008)

Poster do filme A Onda com pessoas em um ginasio com as mãos levantadas
Poster do filme 'A Onda'

Baseado em fatos reais ocorridos em uma escola da Califórnia, 'A Onda' é praticamente um soco no estômago do espectador.

Um professor de história é obrigado a ministrar um curso sobre autocracia no colégio em que leciona. Profundamente contrariado, já que não gosta do assunto, ele decide fazer uma experiência com seus alunos. Ao invés de apenas ministrar aulas chatas sobre fatos históricos, ele decide recriar um ambiente em que os alunos participam ativamente. Todos passam a usar roupas semelhantes, o individualismo é aos poucos eliminado e o senso democrático reprimido em detrimento da 'força pela união'.

Não só para as personagens mas, em certo sentido até mesmo para o espectador, o modelo parece sedutor, pois os alunos passam a ajudar-se mutuamente e todos parecem ganhar como o modelo. Porém aos poucos os críticos da experiência passam a ser atacados e as coisas acabam saindo do controle, com consequências catastróficas.

Ele Está de Volta (Er ist wieder da - 2015)

Poster do filme com fundo branco e silhueta de Hitler
Poster do filme 'Ele Está de Volta'

Hitler, por motivos desconhecidos, reaparece em pleno ano de 2014 e é confundido com um comediante. Descoberto por um produtor independente ambos começam uma jornada pela Alemanha para gravar uma espécie de reality show.

O filme é uma mistura de documentário com ficção (talvez um mockumentary), no qual o espectador não sabe ao certo o que é interpretação ou o que são depoimentos verídicos. São abordados assuntos polêmicos e sensíveis para a Alemanha como a crise de refugiados, a vinda de estrangeiros para o país, islamismo, racismo e etc.

Um dos pontos mais interessantes do filme é quando o suposto comediante vai a um programa de TV e, sem dizer uma única frase racista ou preconceituosa, faz o público ficar calado. Ele apenas diz coisas como "os princípios morais da Alemanha estão decadentes", "só vejo lixo na TV" etc. Este é o tipo de hipocrisia que foi muito comum durante o regime nazista, onde as artes e a intelectualidade que não agradavam ao regime eram duramente atacada através da propaganda, da guerra ideológica e cultural. Esse discurso está muito vivo e presente na atualidade, enganando a população e elegendo políticos.

O filme aos poucos mostra como e fácil cooptar pessoas utilizando seus próprios preconceitos como arma de controle. Um panorama pavoroso se pensarmos que a Alemanha é considerada um dos países mais avançados e democráticos do mundo. Será que no Brasil seria diferente?

V de Vingança (V for Vendetta - 2006)

Poster do filme V de Vingança com o rosto de V
Poster do filme 'V de Vingança'

Lançado em março de 2006 e dirigido por James McTeigue é inspirado em uma Graphic Novel escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd, publicada entre março de 1982 e maio de 1989.

Em um mundo assolado por guerras e crise a Inglaterra adota um governo fascista com a promessa de proteger o país e seus cidadãos. Para isso promovem uma 'limpeza' social, eliminado, além de seus inimigos políticos, as minorias e dissidentes. Mantém uma política de constante vigilância de seus cidadãos e, através da propaganda e manipulação dos meios de comunicação, impõe uma violenta repressão.

Neste contexto surge V, homem violento, culto e habilidoso cujo rosto é obscurecido pela máscara de Guy Fawkes, personagem histórico que em 5 de novembro de 1605 tentou explodir o parlamento britânico. V fomenta uma revolta popular através de métodos não convencionais, violentos e em muitos pontos questionáveis.

A máscara com o rosto de Guy Fawkes tornou-se em nossa cultura globalizada o símbolo da revolta popular de grupos como o Anonymous.

Existem vários outros que poderiam ser listados aqui mas acredito que estes três ajudarão os leitores a refletir sobre o mundo em que vivemos e sobre nossos próprios preconceitos.

Autor(a)

Daniel Pereira

Formado em Física / Astrofísica pela Universidade de São Paulo. Fez cursos nas faculdades de Filosofia, Geologia e Matemática na Universidade de São Paulo. Fez cursos na área de artes plásticas e história da arte no Centro Cultural São Paulo. Também frequentou o curso de Introdução a Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atua na área de tecnologia e web desenvolvendo soluções voltadas para várias áreas do conhecimento, incluindo pesquisa com redes sociais. Atualmente atua para um grande portal de notícias.

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