A Agência de notícias independente Fluxo - http://www.fluxo.net/ - discutiu sobre o colapso hídrico com Marússia Whately, coordenadora da Aliança pela Água - http://www.aguasp.com.br/ - no momento em que a organização lança um plano de emergência e um chamado à ação para a sociedade enfrentar a crise da água em São Paulo.

Na conversa estão presentes:

• Antônio Martins (Outras Palavras)
• Barbara Gancia (GNT/Rádio Bandeirantes)
• Claire Rigby (Colaboradora da imprensa internacional)
• João Wainer (Folha de S. Paulo)

Apresentação de Bruno Torturra.

Esta conversa é dividida em nove partes. Abaixo listamos os principais assuntos abordados e o ponto dos vídeos em que podem ser encontrados. Recomendamos que assistam a toda a conversa, pois ela é reveladora em vários aspectos.

Vídeo 1:

• 00:50 - Bruno Torturra apresenta os convidados
• 02:40 - Marússia fala sobre a Aliança pela Água. Iniciada em Outubro de 2014 engloba várias organizações da sociedade civil. Trabalha para discutir e trazer propostas para a crise hídrica, além de buscar o debate.
• 04:10 - Sobre o lançamento do documento 'Chamado à Ação' que contextualiza a crise da água e traz 5 propostas para a mesma. Algumas delas são: considerar a dimensão da crise atual, sala de situação para produzir informação e a sala de imprensa para divulgação.
• 06:20 - No começo do ano a crise ganhou um contorno de maior gravidade e 2014 foi um ano perdido. O governo sempre negou as dificuldades ao afirmar que a crise era algo pontual do Cantareira.
• 09:00 - Segundo Barbara Gancia a imprensa falhou, pois esperou os boletins oficiais e não investigou desde o começo. Itu, em 2013, teve saques, caminhões pipa escoltados, pois faltou água por 20 dias. O que acontecerá se faltar água em uma gigantesca metrópole como São Paulo?
• 10:40 - As ações para a crise vão muito além do racionamento. Quatro dias sem água e dois com, uma realidade que pode acontecer. Nosso maior problema será na estação seca, a partir de abril. Menos água ao longo do ano. O que é preciso fazer para o racionamento ser minimamente suportável?
• 13:00 - As eleições contribuíram para que medidas, como o racionamento oficial, não fossem implantadas. Todas as medidas adotadas até hoje não foram suficientes pois houve uma redução de 22% da retirada de água quando o necessário seria chegar a uma diminuição de 35 a 40% para recuperar as represas. As perdas nas tubulações também são um enorme problema.
• 14:50 - Paralisia na tomada de decisões. Há um ano e meio o sistema possuía 63.4%, suficiente para o abastecimento por 244 dias. A partir dai começo um declínio muito rápido dos níveis. Hoje temos água para 61 dias de abastecimento. O governo não abriu para o debate este tema e não implementou campanhas de esclarecimento.

Vídeo 2:

• 02:00 - É muito difícil para as pessoas imaginarem que a água vai acabar no Brasil. Apesar de termos muita água a maior parte está no Norte. A poluição contamina a água que temos e o desmatamento influencia negativamente na retenção da água. Nosso modelos de gerência priorizam obras e não o cuidado. Não adianta fazer obras para trazer água de lugares que vão secar também.
• 04:50 - As pessoas, com a crise, estão mudando a maneira de pensar. Hoje elas sabem que existem sistemas como o Cantareira ou Alto Tietê, sabem que existe o reuso de água e tecnologia para economizar.
• 06:20 - Falta de transparência e diálogo foram um grande problema em 2014. Quem deve ser responsável por fazer o quê? As atribuições de responsabilidade são confusas.
• 09:15 - O governo do estado é o grande acionista da Sabesp.
• 09:30 - Quem deve ser criminalmente responsabilizado pela má gestão do abastecimento de água? Se pessoas morrerem por causa da crise quem deve ser responsabilizado judicialmente?

Vídeo 3:

• 02:00 - Não estamos mais falando de responsabilidade só da Sabesp para decretar o racionamento ou não, mas de algo maior, que deve envolver defesa civil, secretaria de saúde e outros órgãos para agir em áreas mais afetadas.
• 03:00 - Existem várias iniciativas da sociedade civil como o 'Cisterna Já' que ensina as pessoas a construírem suas próprias cisternas. As pessoas sabem que faltará água e estão preparando-se da maneira que podem, não necessariamente das melhores formas. Neste contexto vem, por exemplo, o cuidado com a dengue.
• 04:28 - As pessoas passarão a buscar água em fontes alternativa, mas qual é a qualidade desta água?

Vídeo 4:

• 00:00 - Quais são os pontos positivos desta crise? A ampliação da discussão do problema. As pessoas nunca falaram tanto sobre Cantareira, Alto Tietê.
• 01:40 - A postura do governo mudou no começo de 2015. A crise pode ir muito além da crise hídrica. As pessoas estão descobrindo que São Paulo tem muita água em diversas fontes. O problema de São Paulo (capital) está sendo amenizada em detrimento de outras cidades do interior e isso não está sendo informado pela imprensa.
• 03:38 - Audiência pública sobre o assunto só tinha um deputado.
• 04:50 - Saneamento é o serviço que menos avança no Brasil. Saneamento não é obra, saneamento é serviço. Medidas de adaptação às mudanças climáticas devem ser tomadas.
• 06:30 - Empresas com departamentos de sustentabilidade não sabem o que fazer.
• 06:55 - Mais de 70% da água é utilizada para irrigação no Brasil. Segundo maior consumo é a criação de animais, o terceiro é o consumo urbano, depois vem indústria e abastecimento rural.
• 09:20 - Usos não residenciais consomem cerca de 20% na região metropolitana de São Paulo. É justo, no momento de estiagem, existirem empresas grandes consumidoras de água com contratos de demanda firme (pagam valores independente se economizam ou não a água), que usam uma água potável para lavar pátio, esfriar aço? Taxas de perda de 30%. São Paulo tem pouca água porque a água é mal utilizada.
• 11:10 - Paradoxo! Está faltando água em casa, mas tem enchente na rua!
• 12:10 - Ícone do movimento ambientalista, nos anos 80, a Billings nunca foi cuidada. Hoje extremamente poluída provavelmente será a única saída da crise neste momento.
• 13:40 - Guarapiranga está ajudando a abastecer as regiões do Cantareira. Em seu entorno mais de 20% de ocupação urbana que não deveria estar ali. Indústrias foram incentivadas a ir para a beira da represa. O esgoto coletado na região é lançado na represa.
• 16:00 - Desmatamento tem um impacto nacional na distribuição da água e também local, no caso da Mata Atlântica.
• 16:40 - Quando se tira água do fundo da represa a qualidade desta é cada vez pior. Se tirar mais do que um certo volume de água a represa pode morrer. O volume morto é mantido para conservar a represa viva. A reserva técnica é outra coisa. No cantareira o volume morto foi transformado em reserva técnica. Depois de seca, a água que chega na represa para recarrega-la acaba sendo absorvida pelo solo.

Vídeo 5:

• 00:42 - Em Higienópolis, onde as pessoas estão construindo reservatórios nos estacionamentos, não vai faltar água. E nas periferias?
• 01:21 - Que tal criar uma cota grátis por morador de 50 litros por dia e taxar quem passar dos 50 litros no preço da água mineral?
• 02:00 - As pessoas da periferia é que estão economizando mais e serão as que sofrerão mais.
• 03:50 - No Brasil usamos água tratada para dar descarga. É necessário gerir melhor a água potável para usos nobres como consumo humano, banho e cozinhar.
• 05:00 - Deveria-se incentivar a utilização da água obrigatoriamente retida pelos condomínios, depois das chuvas, para reaproveitamento e não simplesmente joga-la fora.
• 06:25 - Mapeamento das fontes de água dentro da cidade, como nascentes, para uso da população em momentos de crises graves. Órgãos competentes devem analisar e classificar as fontes para os tipos de uso (água para beber, água para descarga, etc).
• 08:00 - Não se conhece ou fiscaliza os poços artesianos.
• 10:50 - A califórnia há muito tempo enfrenta a seca. Bom modelo para nos inspirar. Medidas como proibição de lavagem de carros e substituição das plantas dos jardins por espécies que não necessitem de tanta irrigação.
• 12:50 - Desde o ano de 2014 muitos alertas foram dados aos governos sobre a gravidade do problema. Enquanto isso o governo sempre minimizou estes alertas, dizendo que ia chover. O papel de liderança durante a crise será muito importante para não provocar pânico na população.
• 16:00 - Ao invés de gastar milhões com a transposições de rios, que estão secos, devemos despoluir as fontes que estão próximas como a Billings e o Tietê.

Vídeo 6:

• 00:10 - Os gestores públicos encaram o saneamento básico como obra e não como serviço;
• 01:59 - Nova cultura de cuidado da água: água não como mercadoria, desmatamento zero, replantio do que foi destruído, ampliar as fontes de água. Por que a unica fonte de água tem de ser a da companhia de abastecimento?
• 03:51 - 'Aquapolo', estação de tratamento de água de reuso na região metropolitana de São Paulo que está ociosa; tem água sobrando para vender!
• 04:30 - Aproveitar a água dos 'piscinões';
• 05:40 - São necessários 15.000 litros de água para produzir 1 kg de carne;
• 06:20 - O uso do volume morto é como se entrássemos no cheque especial;
• 07:40 - O Brasil precisa criar uma política de segurança hídrica. Determinar quem tem e quem não tem água, uso inteligente, prioridades de utilização, cuidar das fontes de água. A vegetação tem importância fundamental na recarga dos mananciais.
• 09:50 - No Guarujá foi necessário canalizar emergencialmente algumas cachoeiras para as necessidades de abastecimento do final de ano.
• 10:50 - Em 2015 surgiu um pacote de 3 bilhões numa parceria entre estado e governo federal, porém a Aliança pela Água alertou que nenhuma das obras previstas resolveria o problema a curto prazo, mas criaria uma espécie de indústria da seca.
• 11:30 - Nossa capacidade para sair da crise vai depender da nossa agilidade em construir um novo modelo para a gestão e o cuidado da água;

Vídeo 7:

• 00:05 - A água é simplesmente uma mercadoria que gera dividendos? Água de reuso e uso consciente vende menos água e, logo, dá menos lucro?
• 04:00 - Pensar o saneamento como serviço e não como obra com indicadores de eficiência. Mudar a lógica atual.
• 06:28 - A mesma taxa que se paga de água se paga de esgoto, mas não necessariamente este esgoto está sendo tratado.
• 07:00 - Como assim tem enchente mas não tem água na torneira?
• 08:00 - Várias tecnologias no mundo. Dessalinizar a água não é a solução imediata para o Brasil. A solução seria a derrota final pois existe água, ela só é mal gerenciada.

Vídeo 8:

• 00:00 - Nas situações de enchentes a marca é a solidariedade, no caso das secas ou escassez de água é o individualismo.
• 01:40 - Pessoas entrando na justiça para ter água em casa e construção individual de cisternas são marcas deste individualismo.
• 03:40 - Água estraga se for mantida guardada por muito tempo.
• 06:20 - Comitês para tornar mais transparente o problema. Foi criado um comitê de crise vinculado a secretaria de recursos hídricos e organizações da sociedades para implantar a política de diminuição da oferta de água e identificar os serviços essenciais que não podem ficar sem água.
• 08:50 - Individualmente o que podemos fazer? Aprender sobre a autonomia hídrica, ou seja, saber quanta água consome a sua família por dia, saber por quanto tempo a água dura no caso de faltar. A água da caixa vai durar por um, dois, três dias? Quais medidas podemos fazer para ela durar mais?

Vídeo 9:

• 00:00 - Será necessária a decretação de estado de calamidade pública? Neste caso será que as fontes particulares de água teriam de ser provisoriamente cedidas para uso público?
• 02:00 - A água vai acabar? Existe uma diferença entre acabar a água na represa e na torneira. Nenhum gestor público seria irresponsável o bastante para secar uma represa. O racionamento é inevitável. Os dados divulgados sobre o nível das represas não está correto. Estamos no negativo.
• 04:30 - Reportagem da Folha indica que a maioria das pessoas é favorável ao racionamento, como se o racionamento dependesse da vontade das pessoas.
• 05:40 - A falta de água vai prejudicar a economia, vai haver êxodo?
• 07:20 - Tabelar o valor do caminhão pipa? Existem caminhões pipa suficientes para abastecer a cidade toda? A água vendida por estes será de boa qualidade?
• 09:10 - Esta crise está permitindo uma grande quantidade de conexões entre pessoas para resolver os problemas, não podemos perder mais tempo! Da forma que sempre usamos a água uma hora ou outra a crise ia explodir.
• 11:10 - Obras como o Rodoanel e ocupações sempre foram prioridade em detrimento dos mananciais.
• 12:00 - A relação mudou! Agora é comum junto com a provisão do tempo da TV o apresentador informar os níveis de água das represas.
• 12:40 - Sabesp negou-se a mostrar os contatos de demanda firme, contratos estes que dão muitas vantagens pelo gasto de água e não por sua economia.
• 13:11 - Não temos informação sobre a retirada de água dos poços artesianos. Se já fizemos isso com a água na superfície, que todos podem ver, imagine as reservas subterrâneas que ninguém vê ou sabe direito como estão!