Quem imagina que o titulo do livro dará alguma pista sobre seu conteúdo não terá mais do que a óbvia informação sobre a cidade onde se passam as histórias. Nem mesmo os títulos da cada uma das três historias contidas no livro, 'Cidade de vidro', 'Fantasmas' e 'A sala fechada', falam muita coisa.
Mas isso não é desmérito de maneira alguma, aliás o livro foi uma grata descoberta, daquelas que, depois de ler, você sente um impulso de lê-lo novamente pois acredita que existe algo mais, escondido, lá dentro.
Não que o livro seja uma obra absolutamente hermética, difícil, burocrática, muito pelo contrário. A "Trilogia de Nova York" é um livro muito gostoso de se ler, flui muito bem pois seu assunto gira em torno de histórias de detetive, mas muito diferente das de Agatha Christie ou Arthur Conan Doyle.
O livro é surpreendente pois no início você pensa que está lendo uma história estilo noir, com detetives, belas garotas misteriosas, enigmas, etc. mas conforme as histórias avançam descobrimos um mundo inteiramente diferente. Os mistérios são apenas um mote para uma investigação bem diferente, uma investigação interna das personagens, uma descoberta antes obscurecida pelo marasmo dos dias.
As histórias parecem fazer voltas ou "loops" que vão espiralando para um centro de convergência inesperado.
O autor e obra confundem-se, mesclam-se, depois voltam a se separar, mesclam-se de novo e o leitor, perdido nesta confusão de idas e vindas, parece circular, junto com o autor e os personagens, até descobrir-se também fazer parte das histórias.
Paul Auster testa, de maneira contundente, a experiência de escrever, de ser autor e da impossibilidade da separação entre autor e obra. Ambos estão intimamente ligados.
Apesar de ser um autor não tão conhecido no Brasil acredito que vale a experiência de ler a "Trilogia de Nova York". Mesmo não vivendo em Nova York o livro terá significado para o leitor pois a questão não é falar de Nova York, é falar de si próprio.