Muito se ouve falar sobre bullying atualmente. Apesar de existir há tempos, recentemente - os primeiros estudos datam da década de 19901 - a atenção sobre o tema ficou maior pelos prejuízos que pode causar.
Bullying2 envolve atos de violência física e/ou psicológica repetidos, numa relação de dominação na qual o bullie (agressor), ou bullies (agressores) preconceituosamente tiraniza(m) e agride(m) uma pessoa sem que esta consiga se defender ou mesmo falar sobre o assunto, causando dor e humilhação. O agressor assume uma atitude autoritária e de poder sobre a vítima, realizando a bulinação longe das vistas dos adultos geralmente e não se importando com o sofrimento produzido. O agredido acaba virando bode expiatório da turma, alvo de chacotas agressivas ou isolamento. Os bullies mostram-se autoritários e intolerantes, às vezes foram também vítimas de discriminação ou maus tratos, podem ter inveja e ressentimento por situações traumáticas de vida e apresentarem características psicopáticas como, por exemplo, crueldade, frieza emocional, ausência de culpa, egocentrismo e manipulação. Fato é que costumam resolver suas questões na base da agressão e descarregam suas frustrações nas vítimas, geralmente personalidades mais frágeis que não conseguem se defender dos ataques. Os resultados³ podem ser traumáticos ansiedade, depressão, raiva, tensão e em alguns casos até suicídio. O agredido pode apresentar sinais e sintomas como: dores de estômago, insônia, enurese noturna (xixi na cama), transtornos alimentares, irritabilidade, medos, ansiedade, isolamento, baixo rendimento escolar ou produtivo, tristeza e depressão.
É uma prática que pode ocorrer em vários ambientes: escola, trabalho, vizinhança, etc e pode aparecer de diversas formas: isolamento da vítima, difamação, preconceito por alguma característica física ou psicológica, zombaria, ridicularização, depreciação, obrigar a vítima a fazer algo que não quer, atacar o corpo ou propriedade do agredido, chantagear, causar vergonha à vítima, cyberbullying realizado pela internet ou celulares por ex., etc. São sempre atos autoritários de discriminação e depreciação da pessoa ou bem alheio por alguma característica: etnia, religião, opção sexual, nível sócio-econômico, aparência física, etc que o bullie elege para zombar. Pode acontecer também entre professor e aluno, chefe e subordinado, da mesma forma fazendo a vítima se sentir desconfortável, abusando de poder, pressionando e/ou humilhando. São atos que devem ser denunciados e medidas feitas para cessarem. Numa escola pode-se atuar com os alunos com supervisão maior do que ocorre, esclarecimentos e construção de um ambiente de cooperação e respeito entre os alunos e professores, tolerância às diferenças, limites e desenvolvimento positivo. Pode-se intervir com as famílias também esclarecendo sobre a situação e estimulando ambiente saudável em casa. Individualmente pode ser oferecido apoio psicológico ao agressor e ao agredido, para trabalharem conflitos internos (como possível baixa autoestima, depressão, agressividade, intolerância, transtornos de humor, medos e ansiedades, etc); a vítima precisa aprender a se defender da expiação e o bullie a respeitar e agir com calma.
No nosso país, existem ainda algumas medidas legais que podem ser tomadas, como: intervenções sócio-educativas, pagamento de multas e indenizações, processos por danos morais, por assédio escolar, por violação dos direitos civis, discriminação racial ou de gênero. Como exemplo temos o caso de um adolescente de 13 anos em Campo Grande (MS) que recebeu como punição da 27ª Promotoria da Infância e Juventude do município, limpar o pátio, lavar as louças da merenda do colégio por três meses e participar de um curso sobre bullying. O fato ocorreu em maio/20114 pelo menino extorquir dinheiro de um colega e obrigá-lo a fazer suas tarefas escolares às custas de ameaças de agressão física. A mãe do autor teve ainda de ressarcir a vítima do dinheiro roubado durante um ano.
Vivemos numa época de extrema rapidez de informações, globalização, exigências de produção e perfeição. Há uma pressão maior de estereótipos e parece-me que intolerância ao tempo, à imperfeição e ao diferente. Embora existam cada vez mais quebras e rearranjos de modelos de vida, parece não haver espaço para as pessoas se constituírem nas suas peculiaridades e reais diferenças; tudo é massificado e o que foge ao padrão sofre, vira alvo de críticas, culpa, vergonha, isolamento e exclusão às vezes silenciosa e violenta. O Bullying é uma destas formas de discriminação e exclusão. Do ocorrido nas escolas entre alunos, ou professores e alunos, ao realizado em outros ambientes como no trabalho por exemplo entre subordinados, ou chefe e funcionários, além de remeter a questões individuais, é sintoma de uma sociedade que no fundo normatiza, rotula e exclui o diferente, o frágil, seja por aparência física, etnia, gênero ou por não produzir no ritmo e forma exigidos pela modernidade. Remete portanto à questões amplas, mas deve ser combatido no micro em casa, com vizinhos, no colégio, no serviço, onde quer que circulemos; como cidadãos que devemos ser e permitir ao outro que seja também.